Influenciado pelos meus pais, cresci com um pé na tecnologia e outro na criatividade.
Meu pai é empresário formado em administração de empresas com ênfase em tecnologia e minha mãe era dona de casa, mas sempre desenvolveu sua lado artístico, produzindo obras em gesso, couro e pintura durante toda a minha infância.
Aos onze anos, sob a influência dela, eu comecei a fazer um curso de pintura a óleo sobre tela e ainda hoje meus quadrinhos estão na nossa antiga casa.
E uma das lições mais importantes que aprendi naquela época foi de que as obras não nasciam de um lampejo criativo, mas sim de muita experimentação.
Em geral, eu tinha uma ideia e projetava na minha cabeça que queria fazer algo, mas, no meio do processo, eu descobria que uma cor não combinava bem com uma outra que eu havia escolhido, que eu ainda não tinha habilidade suficiente para desenhar no pincel um rosto humano e várias outras questões que mudavam o projeto ao longo do tempo.
Contribuiam também o feedback que eu recebia da professora, dos outros colegas e dos meus pais, quando mostrava a obra parcialmente desenvolvida. Nessas horas, eu estava sendo treinado a fazer a quarta fase do Legal Design, testes e feedbacks.
Eu aprendi, então, que criar é experimentar. Criar não é uma ciência exata, mas, em se tratando de “experimentar”, a tecnologia pode ajudar muito. Afinal, para testar, aprender com os erros e aperfeiçoar, os softwares de prototipação são aliados importantíssimos.
Em mais de 05 anos trabalhando com projetos de inovação jurídica, uma coisa aprendi foi: quanto mais espaço houver para a experimentação, mais espaço vai haver para a criatividade e menos espaço haverá para desperdício de tempo e dinheiro para criar algo que ninguém quer.
Por isso, se você quer começar a implementar o Legal Design na sua organização jurídica, seja ela escritório de advocacia, departamento jurídico de empresa ou órgão público, é importante que a experimentação faça parte da cultura geral, de todos, não ficando restrita a um seleto grupo de pessoas.
Em outras palavras, a ideia da experimentação tem que estar presente dentro de cada sócio ou diretor, se expandir para os times, os processos de trabalho e as ideias que forem criadas pela organização.
Como a pandemia transformou o direito
A experimentação ganhou ainda mais força nessa pandemia, evento que nos lembrou que nem sempre os livros dos gurus do século passado são suficientes para nos ensinar a lidar com cenários complexos, incertos, voláteis e muitas vezes ambíguos.
Tivemos que montar um escritório às pressas dentro de casa e criar uma nova rotina de trabalho. Os gestores precisaram encontrar formas de gerenciar o andamento dos trabalhos remotamente e a produtividade, ao mesmo tempo que tiveram que manter o bem-estar e a motivação das equipes.
Mesmo agora, no auge da pandemia, aquele velho medo que os advogados tinham de não conseguir trabalhar em home office desapareceu, pois continuamos encontrando formas seguras de produzir, estudar, reunir, pesquisar, tudo de forma rápida e eficiente.
Tudo que dependia de experiências físicas teve que ser adaptado.
Por exemplo, no início de 2020 poucos advogados haviam ouvido falar em "Zoom" ou "Microsoft Teams", embora alguns escritórios já tivessem essas ferramentas contratadas há anos. Porém, com o isolamento social, todos aprenderam a usar tais ferramentas em questão de minutos, e passaram a usar tanto para reuniões internas e com clientes, quanto para realizar audiências judiciais.
Cultura da experimentação como mindset
Em 5 anos de Legal Design, os aprendizados têm sido constantes. Hoje, entendo que a cultura da experimentação, com um constante “testar e aprender”, vale tanto para entender quais os serviços jurídicos mais eficientes para um cliente como para promover melhores condições de trabalho para os próprios advogados.
Portanto, é importante que você entenda que, antes de ser sair por aí implementando processos práticos para adoção do Legal Design na sua organização, promova antes a cultura da experimentação como uma mentalidade em seu DNA, inserindo-a em tudo, testando sempre novas possibilidades e, sobretudo, aprendendo juntos.
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