Pesquisas recentes revelaram que os advogados não ficaram impressionados com as ferramentas de Inteligência Artificial Generativa. Mas estou começando a pensar que é um mal-entendido fundamental de como os LLMs funcionam que faz os advogados menosprezarem quando deveriam estar comemorando...
Na verdade, estou convencido de que o culpado é um clichê frequentemente repetido, que é ao mesmo tempo preguiçoso e impreciso.
Conheça o clichê que está arruinando a IA para você
Na semana passada, falei sobre Inteligência Artificial para os advogados de um grande escritório de São Paulo e um dos sócios fez uma observação que já ouvi diversas vezes:
"Um LLM é bom para tarefas repetitivas e simples, mas para trabalhos mais sofisticados, ele deixa a desejar..."
Já ouvi essa narrativa antes, mas hoje eu resolvei explicar por que está tão errada. São 2 pontos principais:
Os LLMs geralmente têm dificuldades com tarefas repetitivas e de alto volume.
Os LLMs são extremamente competentes em tarefas altamente criativas.
O primeiro erro aqui, cometido por esse sócio e por muitos advogados, é confundir e usar equivocadamente o termo "LLM" quando deveria usar o termo "I.A."
Se você estiver falando sobre modelos de IA mais antigos, não construídos usando a arquitetura do Transformer (a espinha dorsal de todos os LLMs, como o ChatGPT), eles não tem nenhuma dificuldade com tarefas repetitivas e de alto volume.
Algumas das melhores ferramentas de IA dos últimos anos, como a ferramenta "Carol", do escritório pernambucano Urbano Vitalino, que foi criada em 2017, e é muito boa para a redação de peças processuais, análises preditivas e due dilligence.
Mas o LLM é diferente. O elemento "generativo" desse tipo de modelo é exatamente o oposto de repetitivo. É criativo. É original. É diferente a cada interação.
Assim, o fato de um LLM pensar mais como um humano do que como uma calculadora pode frequentemente levar a resultados diferentes, deixando um advogado que deseja automatizar esses fluxos de trabalho insatisfeito, pois esse advogado gostaria de ter o mesmo resultado 100% do tempo.
O erro é imaginar que os LLMs, tão poderosos com o Transformer, seriam tão bons que logicamente poderiam lidar com o mesmo tipo de tarefas que um modelo mais antigo de Inteligência Artificial.
Mas isso é como concluir que um ônibus espacial pode atravessar a rua tão bem quanto um patinete.
Onde os LLMs se destacam é como um ônibus espacial. Não é que ele não possa fazer tarefas repetitivas — ele até pode. Ele é apenas muito melhor em ser criativo.
Ele entende a linguagem humana em nível conceitual, além de ter familiaridade com mais tópicos e assuntos do que qualquer humano.
Até agora, eu entendia isso intuitivamente por causa da maneira como uso ferramentas de IA na minha própria rotina. Nem sempre estou procurando IA para economizar tempo. Em vez disso, procuro ferramentas de I.A. para aprimorar habilidades rapidamente, testar novas ideias, fazer brainstorming, criar estratégias, identificar problemas e ter insights que eu não teria, entre outras coisas.
Um ótimo exemplo disso são as ferramentas de IA que "participam" das minhas reuniões com os clientes, transcrevem tudo o que foi falado, identificam cada participante, fazem um resumo de toda a conversa, detalha os próximos passos e quem é responsável por cada atividade. Eu ganho semanalmente várias horas só com essa ferramenta.
Então, se você não se impressionou com a IA Generativa, talvez seja porque você estava olhando com o par de óculos errado.
Talvez você tenha pedido para ela redigir um NDA para você ou executar alguma outra tarefa simples, e ela agiu de forma um pouco inteligente demais — mais como um humano e menos como um robô...
Então aqui está a reformulação: se você está tentando automatizar uma atividade mais simples e repetitiva, tente primeiro com um modelo de IA mais antigo. Use LLMs como ChatGPT, Copilot ou Gemini para coisas complexas, desafiadoras e criativas.
Moral da história: Patinete para atravessar a rua; Foguete quando você está mirando na lua.
Se você não viu meu webinar sobre como os LLMs funcionam (um dos favoritos), você pode assistir aqui.
Mauro Roberto Martins Junior
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