Recentemente fiz uma postagem nas redes sociais que defendia a ideia de que a empatia na redação jurídica deveria ser uma questão de ética.
Isso porque, todo contrato, petição, política ou opinião legal deve ter como objetivo facilitar a compreensão do leitor.
E uma das formas de facilitar essa compreensão é a utilização de frases curtas, diretriz que faz parte das boas-práticas do design de informação.
Muitos dizem que a ideia se originou da decisão tomada em 1973 por um banco americano, agora transformado em Citibank, de reescrever sua nota de empréstimo ao consumidor. Essa reescrita foi um tremendo sucesso: aumentou o mercado do banco e, ao mesmo tempo, reduziu seus litígios.
Leia esse artigo até o fim e aprenda a fazer o mesmo!
O que é uma frase curta?
De acordo com as recomendações internacionais dos especialistas em plain language, uma frase que tenha entre 20 e 25 palavras é o ideal para o português.
Porém, é óbvio que essa é uma recomendação objetiva que visa nos ajudar a identificar quando uma frase fica longa demais e não uma regra inviolável. Ou seja, podemos ter uma frase com 35 palavras e que seja fácil de ler e outra, com 15 palavras, que seja terrível.
Portanto, embora seja sempre bom optar por uma frase curta do que por um frase longa, o foco é o resultado e é preciso ter bom-senso.
Por outro lado, é importante lembrar que o que complica a compreensão do leitor não é só o número de palavras. Devem ser consideradas também outras questões, como o suporte onde esse texto será exibido. Se for no celular, por exemplo, a frase mais longa vai exigir que a pessoa role a tela para conseguir ler. Isso pode ser um problema.
Porque usar frases curtas?
Primeiramente, frases longas e complicadas geralmente significam que você não tem certeza sobre o que deseja dizer.
Depois, as frases carregadas de termos, expressões e exceções confundem o público que se perde em uma floresta de palavras. Frases longas carregam mais carga cognitiva.
Reflita. Porque você quer exigir que o leitor faça complicados exercícios mentais para compreender o seu texto?
Nielsen e Morkes, em um famoso estudo de 1997, descobriram que 79% das pessoas só "escaneiam" os textos e apenas 16% leem palavra por palavra.
Considerando que o seu objetivo ao escrever um documento jurídico é que a pessoa leia, entenda e se comporte de acordo, fazer o leitor se perder é algo que você não quer.
O tamanho das frases nos textos jurídicos
Não sei se você tem o costume de contar a quantidade de palavras que você escreve ou quando lê algum documento jurídico.
Faça isso hoje e você irá notar que normalmente as frases são bem maiores do que 20 ou 25 palavras.
E, durante o meu trabalho como Legal Designer, tenho notado que isso acontece porque utilizamos certos padrões estabelecidos no mercado, sem refletir se aquela redação é mesmo adequada. Ou é mentira que a cláusula de falta de pagamento não é muito parecida em todos os contratos?
Outro erro comum dos advogados é querer tratar de mais de um assunto em uma única frase. Eles querem falar do pagamento, da inadimplência, da aplicação de multa, juros, do vencimento antecipado dos valores devidos, da rescisão... tudo em uma frase.
Porém, a pior situação é quando o advogado inclui palavras desnecessárias porque pensa que isso faz com que o documento pareça mais "confiável".
Faça um exercício de tentar reescrever uma cláusula com menos palavras e você verá que há muitas oportunidades para eliminar o que é desnecessário. Na verdade, a maioria das frases longas pode ser quebrada de alguma forma.
E você notará também que isso não significa reduzir a segurança da sua mensagem ou mudar o seu significado.
Um dos principais desafios, no entanto, é a complexidade do texto jurídico, Você precisa se desapegar do juridiquês para traduzir disposições complicadas em uma linguagem mais simples.
Como trabalhar o tamanho das frases
Primeiro, é importante te avisar que essa não é uma tarefa fácil. Se fosse fácil, Coco Chanel não teria dito uma frase como:
"A simplicidade é a tônica de toda verdadeira elegância."
Ser simples não é fácil. Quando você escreve em linguagem simples, você tem que reescrever, reescrever e reescrever. Escrever em linguagem simples requer tempo.
Porém, seguindo essas dicas, você pode caminhar com mais facilidade por esse processo.
Primeiro, faça um rascunho. Poucos advogados têm o hábito de fazer rascunhos, porém é muito útil. A frase clara nunca é acidental.
Depois, expresse apenas uma ideia em cada frase. Procure dividir as informações em unidades menores e mais fáceis de processar.
Em cada frase, vá direto ao ponto e faça de cada informação o seu assunto principal.
Omita detalhes desnecessários. Procure entender porque as pessoas lerão o seu documento e quais informações precisam. Reduza as informações ao que o seu leitor precisa saber.
Pode ser que você tenha que reescrever algumas vezes até chegar a um formato que seja compreensível. Porém, esse trabalho vale a pena, pois ele ajuda a fechar mais negócios, aumentar a agilidade, reduzir litígios, reduzir custos e muito mais.
Conclusão
De nada adianta você aplicar "Visual Law" nos seus documentos jurídicos, incluir cores, ícones e linhas do tempo, se você não melhorar a redação dos seus textos.
E a primeira diretriz para ter uma redação mais eficiente e ajudar o leitor a compreender sua mensagem é a utilização de frases curtas.
Não escreva para o seu chefe ou para os seus colegas advogados. Escreva para o destinatário final, utilizando uma redação que esteja alinhada com a sua idade, grau de instrução, profissão, experiência e demais características.
Entenda que quando você escreve com clareza e vai direto ao ponto sem usar palavras desnecessárias ou jargão técnico, você passa sua mensagem mais rapidamente e aumenta a chance de as informações serem compreendidas e usadas.
Quando falamos de 20-25 palavras, estamos falando em uma média. Ou seja, nem todas as sentenças precisam estar nesta faixa, deve haver uma variedade. Muitas frases curtas podem fazer um texto parecer instável. Uma frase longa bem construída pode dar a variedade necessária ao ritmo do texto.
Caso tenha dúvida, lembre-se sempre da lição de um dos maiores juristas da história mundial, Thomas Jefferson:
"O mais valioso de todos os talentos é nunca usar duas palavras quando uma servirá"
Para quem quiser entender mais, recomendo a leitura do livro Oxford Guide to Plain English (Oxford University Press, 2013), de Martin Cutts, uma das principais obras de referência na literatura internacional sobre linguagem clara.
E assim eu mudo o tema do meu TCC. Texto encantador.