Advogados começam a usar o "Vibe Writing", uma nova forma de interagir com a I.A. generativa
- Mauro Roberto Martins Junior
- há 2 dias
- 5 min de leitura
Primeiro, vamos colocar todo mundo na mesma página: você sabe o que é "Vibe Coding"?
Trata-se de uma expressão que foi popularizada por Andrej Karpathy, ex-pesquisador da OpenAI, que consiste em usar a IA para criar códigos de programação de forma mais livre e conversacional, ou seja, você diz o que precisa e a IA escreve o código por você. Depois, você revisa, testa e, se necessário, pede ajuda para os ajustes.
“Vibe” vem de vibração, de energia, de fluxo. É assim que se programa agora, com IA.
Em outras palavras, você pode até não entender nada de programação, e mesmo assim obter códigos capazes de criar um programa ou um aplicativo que funciona.
O que seria então o "Vibe Writing" para os advogados?
O Vibe Writing, seria então um processo de redação de documentos jurídicos no qual os advogados descrevem o que querem, não exatamente como deve ser. E a IA preenche as lacunas e sugere o que deve ser feito.
Dessa forma, o Vibe Writing não se trata de criar um prompt perfeito, mas sim fornecer à ferramenta de IA pequenas orientações e, depois, itera com os resultados. Portanto, essa é uma estratégia de 10 ou mais prompts simples, ao invés de um mega complicado.
Você sugere algo, vê se funciona e avança e desenvolve ou descarta. O mais interessante é que os advogados mantém o controle da tarefa, melhorando a resposta da IA e dividindo o processo em etapas menores e mais gerenciáveis.
Em nenhum momento você deve sentir que “terceirizou” seu pensamento jurídico para a IA, mas sim que está usando um modelo prático de como advogados podem trabalhar com IA, mantendo o conhecimento humana no centro do processo.
Você não está comandando a máquina. Você está dialogando com ela. O fluxo de trabalho se torna uma parceria genuína.
Exemplo prático
Vamos supor que você precise criar uma minuta contratual para estabelecer as regras de uma relação comercial que é nova para você.
O primeiro prompt pode ser algo como:
“Atue como um advogado especialista em direito contratual empresarial. Você deve criar uma minuta para estabelecer as regras contratuais entre um empresa de “x” e uma empresa de “y”. Você está advogando pelo lado da empresa “x”, adote uma estratégia que proteja os direitos e interesses desse cliente.”
Após a primeira resposta da IA, você analisa e começa a melhorar esse documento jurídico. O segundo prompt poderia ser algo como:
"Esta cláusula de indenização parece muito agressiva para a situação."
Dessa forma, você não cai na famosa armadilha da promessa de documento "quase pronto", fazendo ajustes até a versão mais satisfatória.
É importante destacar que a sugestão aqui não é de uma fórmula rígida. Você pode criar a sua própria forma de trabalhar. A ideia foi fornecer um pouco de estrutura para evitar que você trave e não saia do lugar.
Por que funciona tão bem?
Aqui entra um conteúdo um pouco mais técnico, de funcionamento das ferramentas de IA do tipo LLM (modelos de linguagem), mas que te ajudará a entender os “porquês”.
Esse tipo de IA mapeia padrões de escrita humana a partir de bilhões de exemplos. Elas operam em um enorme espaço latente, uma espécie de mapa conceitual ou “nuvem de palavras”, construído a partir de pesos e relação de dependência entre palavras.
Quando seu prompt carrega tom, referência ou intenção, você está apontando a IA para uma região desse espaço.
Em outras palavras, quando você usa a estratégia de prompts iterativos e específicos do Vibe Writing, você vai guiar a ferramenta em direção aos exemplos corretos. Cada ajuste por prompt ajuda a IA a entender melhor sua intenção. É um ciclo de feedback que gera clareza e precisão.
É por isso que o Vibe Writing parece natural. E é por isso que funciona. A IA preenche a direção que você deu com conteúdo plausível e relevante.
Não se aplica a todas as situações
Se você está no seu décimo acordo de confidencialidade idêntico este mês, não use o Vibe Writing, mas sim um modelo de contrato. O Vibe Writing é mais valioso quando um documento é totalmente novo para você ou é antigo, mas precisa de personalização ou de adaptação a certas nuances.
E, como eu tenho destacado, seus conhecimentos de direito e negócios serão cada vez mais importantes, pois serão eles que darão o discernimento necessário para guiar a IA.
O Vibe Writing não transforma magicamente advogados incompetentes em excelentes.
Uma mudança de mentalidade é necessária
Na verdade, o desafio para começar a usar o Vibe Writing não é técnico, mas de postura e mentalidade. Muitos advogados tratam a IA como um banco de dados ou um mecanismo de busca (um Google).
"O que é prescrição intercorrente?". “Crie uma contestação baseada na teoria da culpa exclusiva do consumidor”. Mas não é assim que a IA funciona.
Esse tipo de prompt leva a alucinações, inconsistências e resultados genéricos.
As ferramentas de IA respondem melhor a orientações do que a comandos. Um prompt do tipo "Rascunho do contrato X", não fornece contexto com o que trabalhar.
A IA prospera com orientações claras, dicas estilísticas e nuances contextuais. Sem isso, ela não consegue determinar disposições-chave ou necessidades específicas do cliente.
E essas são decisões de julgamento, pensamento crítico e identificação do que deve ser priorizado para uma situação específica, um caso real. E é aí que os advogados ainda são tão importantes.
O Futuro da Redação Jurídica
Com o avanço das capacidades e qualidade de entrega das ferramentas de IA, esse tipo de interação proposta pelo Vibe Writing levará o trabalho de redação jurídica a ser muito mais parecido com compor uma música do que de pesquisar em um banco de dados.
Aos poucos, você molda o resultado desejado. E o método mantém você engajado no processo de pensamento, e não afastado dele.
Uma crítica comum à IA é que ela nos tornaria mais burros, que terceirizaríamos muito do nosso pensamento e perderíamos o contato com nossas habilidades intelectuais.
Com o Vibe Writing, o advogado redefine a forma de atuar, entendendo a diferença entre o pensar e o fazer. Antes, o advogado queria pensar e fazer. Com o apoio da IA, o advogado vai pensar em voz alta e o modelo vai acompanhar suas instruções e fazer.
Este método mantém o advogado envolvido. Você se mantém atualizado sobre o trabalho. Você nunca perde de vista o que está acontecendo. Você identifica os problemas logo no início, antes que eles se incorporem ao rascunho, por exemplo.
Essa forma de trabalhar com IA veio para ficar, mas a mudança de mentalidade é o que importa.
E essa mudança já está em andamento. Os advogados que a adotarem, não apenas economizarão tempo, mas redefinirão expectativas, cortarão custos e liderarão o mercado, enquanto outros ainda debatem sobre como usar a IA na prática jurídica.
As 03 grandes ondas que atingirão a advocacia até 2035
De acordo com o estudo "The Future of Law Firms - 2025" da Thomson Reuters, a inteligência artificial generativa causará um impacto de 03 grandes ondas nos escritórios de advocacia nos próximos 10 anos, sendo que em 2035 sobreviverão apenas os "vencedores da IA".
Esse estudo leva em conta que as ferramentas de IA, treinadas com o principal insumo do trabalho jurídico (o texto), ficarão cada vez melhores e, junto com ferramentas de automação, farão boa parte das tarefas hoje realizadas pelos advogados.
É nesse contexto que surge a Advocacia 6.0, que é a 6ª geração de advogados brasileiros que atuará em conjunto com as máquinas, em uma verdadeira simbiose, para entregar serviços jurídicos mais ágeis, mais precisos e mais satisfatórios para os seus clientes.
Venha entender a disrupção que acontecerá no mercado jurídico nos próximos anos e como você pode se adequar rapidamente a ela:
Obrigado!
Mauro Roberto Martins Junior
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