Quando os advogados se formavam até o final da década de 1990, a biblioteca jurídica era o coração do escritório de advocacia.
Os advogados iam lá para fazer pesquisas jurídicas, e todo e qualquer outro tipo de trabalho de pesquisa.
Por isso, o normal era encontrar os advogados mais jovens na biblioteca em algum momento, praticamente todos os dias. Vez ou outra, todos os associados do escritório estavam na biblioteca ao mesmo tempo.
A biblioteca era, em muitos aspectos, um lugar agradável para passar o tempo.
Para um amante de livros como eu, uma biblioteca sempre teve um visual atraente.
Aquele monte de prateleiras de volumes belamente organizados formavam um cenário encantador.
Até hoje os produtores de televisão e cinema raramente conseguem reproduzir uma cena de escritório de advocacia sem aqueles livros lindos em tons de preto, bordô e dourado.
A experiência original da biblioteca
Na biblioteca, era comum os advogados conversarem um pouco e discutirem questões jurídicas nas quais estavam trabalhando.
Olhando para trás, é fácil perceber que aquelas análises jurídicas recebiam créditos a mais do que mereciam.
Nesse tipo de situação, era muito fácil um advogado ficar tentado a dar peso à opinião de um colega sobre um assunto, principalmente se essa opinião coincidisse com a sua, mesmo que o outro colega não soubesse tanto sobre o assunto.
Com o monopólio dos recursos de pesquisa, a biblioteca permaneceu essencial para a prática jurídica por décadas e, portanto, um ponto de encontro diário para os advogados.
A queda do império da biblioteca
A biblioteca se tornou um anacronismo (falta de correspondência entre as particularidades das diferentes épocas).
Sua utilidade caiu drasticamente, à medida que os advogados mudaram de sua dependência de livros para a internet. Primeiro, usando computadores desktop e depois também laptops e, ultimamente, eles passaram a depender de smartphones também.
A amada biblioteca se tornou uma cidade fantasma.
Nos últimos anos, os advogados raramente se reuniam na biblioteca, como faziam antes.
Com a pandemia, veio o golpe final. Muitos escritórios devolveram andares alugados e fizeram grandes reformas para se adequarem a essa nova realidade.
Qual foi o destino da biblioteca? O mesmo destino da velha TV de tubo catódico da sua família na enorme estante de madeira: uma distante lembrança no passado.
Qual a tendência para o futuro
Eu não sinto falta daquelas antigas bibliotecas.
Porém, eu sinto falta do conceito de ter um ponto de encontro central em um escritório de advocacia pensado para se sentar, conversar, trocar ideias, debater, se conhecer.
É óbvio que fazer pesquisas na Internet é inegavelmente mais eficiente do que confiar em uma sala cheia de livros e volumes avulsos, muitos deles desatualizados e obsoletos.
Mas também é uma atividade mais solitária.
Eu acredito muito no futuro “data-driven” dos escritórios de advocacia, mas não desejo que ele se tornem um ambiente hostil para as pessoas.
O direito é uma área de humanas, que busca resolver o problemas das pessoas. Mesmo quando trabalhamos para empresas, são as pessoas físicas que sofrem.
Além disso, a complexidade de área de humanas exige um trabalho colaborativo e cooperativo para que se encontre a melhor solução.
Portanto, embora as grandes tendências para o Direito estejam ligadas à tecnologia, a MELHOR tendência para o Direito é a HUMANIZAÇÃO.
Humanizar os escritórios de advocacia é o segredo para conquistar e reter os profissionais mais brilhantes, discutir e encontrar ideias criativas para os problemas dos clientes e garantir a perenidade do escritório enquanto organização.
O que isso tem a ver com Legal Design?
Tudo! Isso se chama Design de Organização, uma das modalidades do Legal Design, conforme ensina Margaret Hagan no livro Law by Design.
Não se engane, Legal Design não é só Visual Law.
Mauro Roberto Martins Junior
Sócio do estúdio Lawhaus de Legal Design e CEO da Escola Brasileira de Legal Design
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