Pelo menos uma vez por semana eu tenho que responder à seguinte pergunta:
"Como eu faço para começar no Legal Design?"
Em uma conversa, eu costumo aprofundar um pouco mais e perguntar para a pessoa se o objetivo dela com o Legal Design é utilizá-lo como uma ferramenta para aprimorar sua prática jurídica ou se ela quer ser tornar profissional especializada em Legal Design.
A diferença entre a abordagem para essas duas situações é que, em uma, pode-se dizer que a necessidade de desenvolver as habilidades de designer é menor, enquanto na outra, é recomendado um domínio maior das ferramentas de design..
No entanto, para ambos os casos, o começo é sempre o mesmo, e é sobre isso que vou falar no artigo de hoje.
Primeiro, não precisa se tornar um designer
A primeira coisa que você precisa entender é que o design não é como uma província de designers profissionais, que estudam e atuam na área há anos.
Na verdade, qualquer pessoa tem a capacidade de se tornar um designer. O processo de design é passível de aprendizagem e também é aprendido em etapas e módulos.
Você vai entender que um designer gráfico, um designer de interiores ou um designer de interface tem uma enorme quantidade de habilidades e instintos para criar designs fantásticos, mas também é fácil ser um designer amador e fazer uso do processo, da mentalidade e da mecânica que ele tem a oferecer.
Mesmo que você não consiga criar um visual perfeito ou um produto vendável, você pode criar conceitos e especificações para entregar a designers profissionais que irão dar o acabamento final na ideia para você.
O mais importante é que, ao praticar agir e pensar como um designer, você pode aumentar sua capacidade de produzir serviços jurídicos de alta resolução. O design é um músculo que você pode construir através da prática.
Primeiro, entenda as características especiais do Legal Design
Uma das vantagens para os profissionais do direito é que o Legal Design possui algumas características que ajudam a quem está começando.
Ao contrário de outros tipos de design, o Legal Design não se concentra tanto em convencer os usuários a consumir um produto ou uma experiência, ou em sentir uma emoção específica.
Em vez disso, o Legal Design busca aumentar a capacidade de uma pessoa de tomar decisões estratégicas para si mesma. Em outras palavras, seu alvo é mais o cérebro e menos o coração ou a carteira.
O Legal Design visa, por exemplo, criar ambientes, interfaces e ferramentas que apoiam a inteligência das pessoas e melhorar o equilíbrio entre o indivíduo e a burocracia.
É claro que isso não quer dizer que consumismo, conexões emocionais e métodos comerciais não possam ser partes do trabalho de Legal Design. Ainda devemos estar sintonizados nos estados emocionais e nas preferências dos usuários.
Mas a preocupação maior deve ser aumentar sua sabedoria e compreensão, fortalecer o indivíduo enquanto usuário do sistema jurídico.
Sendo assim, para começar no Legal Design, você deverá se concentrar em nosso próprio conjunto de princípios e padrões orientadores: O que contribui para um bom serviço jurídico? Como nos comunicamos com mais eficácia? Que tipo de experiência de serviço jurídico será mais adequada para nossos usuários?
Então, comece a pensar como um designer
Uma vez que você já entendeu que o Legal Design não é o mesmo design utilizado para criar uma marca, por exemplo, o segundo passo é você começar a pensar da mesma maneira que um designer pensa quando ele está resolvendo um problema.
O modo de pensar dos designer (ou design thinking) já foi empacotado em um processo dividido em fases, e é a forma como o design é aplicado a outros campos, como educação, finanças, governo, administração, saúde e outros.
O design thinking é, portanto, uma maneira de usar o processo, a mentalidade e a mecânica de um designer profissional, porém adaptados para uso de não designers em seus próprios domínios.
O Legal Design é, então, o design thinking adaptado ao direito.
Ao ajudar os profissionais de outras áreas a pensar como um designer, o design thinking os ajuda a explorar seus próprios conhecimentos, enquanto os estruturam em projetos inovadores.
É importante lembrar que a inovação não é um processo mágico. É algo em que os profissionais podem ser treinados e o design thinking oferece orientação para isso.
No entanto, o design thinking não é apenas para pessoas que estão trabalhando em startups de tecnologia legal, branding ou comunicação visual.
Ele pode ser utilizado por qualquer pessoa do setor jurídico que queira oferecer melhores serviços para seus clientes, que queira melhorar sua própria vida e a organização em que atue ou que queira ver um melhor ecossistema jurídico.
Exemplos práticos da mentalidade do Legal Designer
Para começar a adotar uma abordagem de design, uma das principais mudanças dos advogados é adotar novas mentalidades e utilizar novas lentes com as quais poderão ver o seu trabalho, seus desafios e seus recursos.
As mentalidades de um designer divergem das de um advogado tradicional e, por isso, a adoção dessas novas perspectivas pode ser dolorosa. No começo pode ser estranho e desconfortável. Isso não ocorre com a maioria dos advogados, mas com a prática (e mudança de cultura) é fácil aprender.
No entanto, como as mentalidades de design são sobre como podemos trabalhar e como podemos resolver problemas, elas podem ser reveladoras para os interessados em melhorar o sistema jurídico.
Veja algumas dessas mentalidades:
Seja experimental
Seja centrado no usuário
Seja intencional
Esqueça a viabilidade por um momento
Veja tudo como um protótipo
Aprenda a receber críticas
Seja específico, vá ao extremo
Questione tudo como um iniciante
Trabalhe em equipes mistas
Seja visual
Construa para pensar
Abrace as restrições
Essas mentalidades essenciais podem enquadrar, inspirar e orientar sua abordagem ao seu trabalho. Elas podem ser adaptadas ao trabalho de profissionais do direito, em um nível modesto ou mais ambicioso.
Para esse artigo não ficar muito extenso, explicarei cada uma dessas mentalidades nos próximos artigos, acompanhe!
Se você é um empreendedor ou um inovador, elas podem ajudá-lo a encontrar novos conceitos inovadores e levá-lo rapidamente a uma nova oferta. Se você não estiver criando algo 'inovador', poderá usá-los para fazer melhorias em como você trabalha e como se conecta aos seus usuários.
Conclusão
Como isso é diferente de nossas maneiras usuais de trabalhar em direito?
Na verdade, as mentalidades de design são ótimos complementos para as mentalidades que os advogados normalmente usam ao tentar resolver problemas.
Comece a dar os seus primeiros passos no Legal Design entendendo que essas mentalidades têm valor não apenas ao "passar por um processo de design para criar algo novo", mas também na maneira como você realiza o seu serviço jurídico atual.
O design pode te ajudar a imaginar maneiras melhores de trabalhar, bem como servir melhor seus clientes e o público em geral.
Nessa primeira fase, lembre que você pode contar com especialistas de outras disciplinas que irão colaborar com você em cada projeto.
Mauro Roberto Martins Junior
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