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A ascensão do Legal Design: janela de oportunidade e visão a longo prazo.

Desde 2015, quando na sede da Microsoft em Seattle eu fui provocado a refletir sobre a estagnação do mercado jurídico e a distância entre os serviços dos advogados e a sociedade moderna, esse é o momento mais pulsante para o Legal Design:

  • O Legal Design foi matéria tanto na Folha de São Paulo quanto no Financial Times da Inglaterra e na Forbes, nos Estados Unidos;

  • O número de LawTechs e LegalTechs têm crescido vertiginosamente nos últimos anos, assim como os investimentos de capital de risco nessas startups;

  • O CNJ não só tem debatido a sua aplicação com frequência, como recomendou a sua utilização em uma resolução recente;

  • Empresas modernas, como o iFood, já colocam essa habilidade como diferencial no processo seletivo e estão criando grupos de inovação no departamento jurídico;

  • Os principais escritórios do país já estão contratando especialistas em inovação jurídica;

  • Universidades do mundo todo estão incluindo a matéria em seus cursos de direito e implementando "Legal Design Labs"; e

  • No Brasil e no mundo, até juízes já estão aplicando a metodologia para humanizar a prestação do serviço jurisdicional.

E isso é muito bom para o direito, para a justiça, para a sociedade e para a sua carreira, e eu já vou te explicar o porquê.


2013 - O início de tudo


Se você está tendo os seus primeiros contatos com o Legal Design, é interessante saber que se trata de uma metodologia bastante jovem, pois nasceu em 2013.


Margaret Hagan, uma estudante do curso de direito da Universidade de Stanford, foi a primeira pessoa a conceito em um livro, chamado "Law by Design".


Na época, ela ajudava seu namorado (hoje seu marido) com a monografia do curso de design e percebeu que a metodologia chamada "Design Thinking" estava sendo utilizada em diversas indústrias para aprimorar a experiência dos usuários, menos no direito.


Ela então conseguiu uma bolsa junto à reitoria da Universidade de Stanford e fez o curso de design da d.School, a escola de design de Stanford, que é uma das mais renomadas e prestigiadas na área de Design Thinking.


Considerando as características do mercado jurídico, Margaret adaptou o processo de 05 etapas já famoso em Stanford e deu a ele o nome de Legal Design. Hoje, Margaret é a diretora do Laboratório de Legal Design da universidade e seu trabalho se concentra na área de acesso à justiça.


2016 - os primeiros resultados


Os primeiros pioneiros do design jurídico foram a Stanford University e a IDEO, empresa global de design com sede no Vale do Silício, que começaram realizando workshops de Legal Design para ajudar os escritórios de advocacia a estabelecer e administrar suas próprias incubadoras de inovação.


Porém, os primeiros exemplos significativos de Legal Design surgiram do outro lado do mundo em 2016, com a equipe jurídica interna da Telstra, uma empresa australiana de telecomunicações.


Eles usaram o Legal Design para fazer pequenas melhorias na entrega de serviços para clientes internos, porém o resultado foi muito impactante. Eles conseguiram reduzir a carga de trabalho interna do departamento de 220 advogados em 40.000 horas por ano.


Eles foram finalistas do ILTA Innovation Awards 2017 e isso chamou a atenção do mundo.


Hoje, centenas de empresas, escritórios de advocacia, órgãos públicos e demais tipos de organização jurídicas do mundo estão aplicando o Legal Design em suas operações.


E por que cresceu tanto?


Quem não acompanha essa evolução do Legal Design desde o seu início tem uma falsa impressão de que se trata de um "hype", uma moda passageira, que começou há pouco tempo.


No entanto, o crescimento do Legal Design tem dois grandes pilares.


O primeiro são os resultados. Empresas, escritórios e organizações que estão aplicando o Legal Design corretamente têm colhido resultados significativos, uma vez que tendo o usuário no centro do processo, desenvolvem serviços jurídicos mais eficientes.


Os contratos deixaram de ser folhas de papel guardadas em uma gaveta à espera de um litígio e passaram a ser mais um ponto de relacionamento entre as partes, construindo confiança, facilitando negócios, reduzindo ações judiciais e gerando dados e insights.


As políticas de privacidade, de compliance e os termos de uso começaram a ser lidos, entendidos e obedecidos, aumentando o engajamento dos usuários e reduzindo riscos e disputas.


As petições se tornaram ferramentas eficientes. Em um país em que cada juiz tem em média 2107 casos por ano e sentencia em média 8,44 processos por dia, o Legal Design a forma mais eficiente de conquistar a atenção do magistrado.


E assim, o Legal Design está sendo utilizado para aprimorar todos os aspectos do direito e da justiça, desde o design de informação (visual law) até os tipos mais sofisticados de design, como design de produto, design de serviço e design de organização.


Diante desses resultados, o segundo pilar é a expectativa do consumidor. O mercado se impõe e o cliente que experimentou resultados como os mencionados acima, começa a olhar torto para serviços jurídicos menos eficientes.


Próximos anos: uma janela de oportunidade


Se você estiver se perguntando qual é o futuro do Legal Design, eu tenho um palpite de quem está nesse meio há 7 anos: estamos em uma janela de oportunidade!


Essa ideia vem da percepção de que, como o conceito ainda é novo e considerando que há muitos problemas para serem resolvidos no direito e na justiça, os próximos anos serão de muitas oportunidades para quem tiver a habilidade do Legal Design.



Saber colocar a experiência do usuário no centro do processo criativo, criar protótipos de baixa complexidade e rápidos para resolver um problema e testá-los até que atendam a uma necessidade específica de um usuário de serviços jurídico será um diferencial para os profissionais do direito nos próximos anos.


Porém, no médio prazo, esse diferencial se diluirá, pois o Legal Design deixará de ser uma habilidade especial, para se tornar uma habilidade obrigatória.


À medida em que os clientes e usuários começarem a ter contato com serviços jurídicos mais bem projetados e eficientes, os advogados que não souberem oferecer serviços com essas qualidades estarão fora do mercado.


Um exemplo disso é o escritório Gilbert & Tobin, da Austrália, que assessora a empresa pioneira na implementação do Legal Design, a Telstra. Desde 2020, eles começaram a aplicar o Legal Design em tudo o que fazem. “É tão padrão para nós agora”, diz Caryn Sandler, chefe de inovação do escritório,


Conclusão


Existem agora evidências crescentes de que o design jurídico está sendo aplicado com sucesso ao setor jurídico e vai continuar crescendo nos próximos anos.


Se você estava esperando por uma oportunidade para se destacar na carreira jurídica, o Legal Design é o caminho para você. Ele é a base de qualquer outra carreira nova no direito, como analista de dados jurídicos ou fundador de Lawtech.



Busque aprender profundamente a metodologia, aplique-a de forma correta e completa (não tenha preguiça de fazer as pesquisas empíricas necessárias) e foque em resolver o problema dos usuários.


Se precisar de uma ajuda, estou por aqui. Abraços!


Mauro Roberto Martins Junior


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